Ao escrever, neste 17 de dezembro, uma carta ao presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, anunciando que não é mais pré-candidato à Presidência da República, o governador Aécio Neves admite, sem o dizer, que não tem fôlego político para disputar a indicação pelos tucanos com o governador José Serra.
Até aí, tudo bem. Estamos entre os que não acreditavam nesse projeto e até fazíamos votos pelo seu fracasso. Não queríamos que o governador de Minas e sua turma tivessem condições de construir “um novo projeto para o país e um novo projeto de País”.
Achávamos contraditório, no mínimo, que o homem que de moto próprio indicou um candidato a prefeito de Belo Horizonte por um partido que nem era o seu, defendesse as prévias para a escolha do candidato tucano à presidência da República “como importante processo de revitalização da nossa prática política”. É o que ele volta a dizer em sua carta, acrescentando: “acredito que teria sido uma extraordinária oportunidade de aprofundar o debate interno, criar um sentido novo de solidariedade, comprometimento e mobilização que nos seriam fundamentais nas circunstâncias políticas que marcarão as eleições do ano que vem”.
Ah, bom.
Aécio diz ainda que os encontros que manteve com a militância tucana nos últimos meses e os demais encontros “com trabalhadores, empresários e outros setores da nossa sociedade” confirmaram sua percepção “de um País maduro para vivenciar um novo ciclo de sua história. Pronto para conquistar uma inédita e necessária convergência nacional em torno dos enormes desafios que distanciam nossas regiões umas das outras, e em torno das grandes tarefas que temos o dever de cumprir e que perpassam governos e diferentes gerações de brasileiros”.
Palavras, palavras, palavras.
“Defendemos um projeto nacional mais amplo, generoso e democrático o suficiente para abrigar diferentes correntes do pensamento nacional. E, assim, oferecer ao país uma proposta reformadora e transformadora da realidade que, inclusive, supere e ultrapasse o antagonismo entre o “nós e eles”, que tanto atraso tem legado ao País”.
Palavras e mais palavras.
Ao deixar a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio se apressa a dizer que não abandona sua “disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira”.
Ou seja, ele se coloca à disposição para disputar outros cargos. Poderia, acho eu, até fazer o sacrifício de se candidatar a vice na chapa de José Serra. Tudo é possível, para pessoas tão desapegadas e tão prontas a servir ao país e ao partido. “Independente de nova missão política que porventura possa vir a receber, continuarei trabalhando para ser merecedor da confiança e das melhores esperanças dos que partilharam conosco, neste período, uma nova visão sobre o Brasil”.
Tudo bem. Só não precisava ter exagerado: “No curso dessa jornada, mantive intactos e jamais me descuidei dos grandes compromissos que assumi com Minas, razão e causa a que tenho dedicado toda minha vida pública”.
Ah, bom. Então, já não é mais o Brasil e, por implícito, o Rio.
Mas é o Brasil sim, pois ele emenda: “É meu compromisso levar adiante a defesa intransigente das reformas e inovações que juntos realizamos em Minas e que entendemos como um caminho possível também para o País. Continuarei defendendo as reformas constitucionais e da gestão pública, aguardadas há décadas; a refundação do pacto federativo, com justa distribuição de direitos e deveres; e a transformação das políticas públicas essenciais, como saúde, educação e segurança, em políticas de Estado, acima, portanto, do interesse dos governos e dos partidos”.
Pobre Brasil, se tem como exemplo a mirar o que se passa em Minas há sete anos nessas áreas citadas na missiva do governador.
Ele conclui com muitos “agradecimentos públicos” e uma ameaça, dependendo do ponto de vista de quem lê: “Manifesto a minha renovada disposição de estar ao lado de todos e de cada um que julgar que a minha presença política possa contribuir, seja no plano nacional ou nos planos estaduais, para a defesa das nossas bandeiras”. Alguma dúvida sobre a disposição de servir do governador? Nem pensar: “Asseguro, nos reencontraremos no futuro”.
Se pudesse escrever a Aécio Neves, eu desprezaria seu último agradecimento (“ E a Minas, sempre a Minas e aos mineiros, pela incomparável solidariedade”) e me limitaria a registrar um único apelo sincero: “Esqueça-nos”.
(*) Jornalista